terça-feira, 6 de novembro de 2012

ENTREVISTA A MIGUEL RODRIGO - SELECIONADOR DO JAPÃO


... os espanhóis são os treinadores mais bem preparados do Mundo a nível táctico-técnico e de estratégia.

É um dos treinadores mais badalados dos últimos tempos, graças à evolução fantástica da Selecção Japonesa. Na véspera do encontro com Portugal, falamos com Miguel Rodrigo, que entre muitos elogios a Portugal e humildade – ou mind-games? - quanto à sua equipa – dá pistas muito importantes sobre o sucesso do futsal espanhol, em especial dos seus treinadores e fala dos seus desejos para futuro. Uma entrevista para ler, reler e, acima de tudo, reflectir.

Nas últimas semanas vimos um Japão de muita qualidade, empatando a 3 golos com o Brasil e, mais recentemente, vencendo a Ucrânia por 3-1. São sinais claros da conclusão, com sucesso, de um trabalho de anos orientado para um grande objectivo – o Campeonato do Mundo?
Tive e continuo a ter muitos objectivos no Japão: primeiro, fazer com que a equipa principal vencesse a Taça da Ásia – já cumprido – e supere a primeira fase de um Mundial; segundo, formar treinadores com a criação de vários níveis e de manuais para estes cursos; terceiro, a promoção do futsal nos clubes de futebol de 11, escolas e colégios e adeptos do futebol.

Quais as principais dificuldades que encontrou no seu trabalho até aqui?
O facto de este ser um desporto novo no Japão e de, quem já o conhecia, olhar para ele como um desporto meramente recreativo, jogado pelos “maus” jogadores de futebol, aqueles que não servem para o futebol. Esta é uma ideia errada que estou a tratar de mudar, de forma a introduzir o futsal nos primeiros escalões de formação.

Que análise faz das equipas do seu grupo – Brasil, Líbia e Portugal?
O Brasil é a equipa campeã do Mundo e, juntamente com a Espanha, são quase invencíveis. Actualmente, são campeões mentais e isso dá-lhes um poder que o resto não tem. Portugal vai esgotar neste Mundial uma geração extraordinária de jogadores, é a sua última oportunidade, pelo que a equipa está motivada. Ambas as selecções têm grandes treinadores e estão entre o top-5 do Mundo. Assim, qualquer ponto que possamos fazer com as duas equipas, pode ser catalogado de milagre desportivo. Estamos a trabalhar nisso para consegui-lo. A Líbia é o campeão de África, conta com um grande treinador espanhol – Pablo Prieto, o que é garantia de êxito, pelo que o Líbia-Japão será uma autêntica final para ver quem fica em segundo, terceiro ou quarto do grupo.

O que falta a Portugal para chegar a um título mundial?
Ganhar [risos]!. Parece uma estupidez dizer isto mas até ganhares não sabes como fazê-lo. Essa é a diferença entre Portugal e Brasil e Espanha, falta ao país superar essa barreira psicológica.
Em que aspectos evoluiu o futsal desde o último Campeonato do Mundo no Brasil?
Em muitos. Toda a incorporação de novos países e ligas que antes não existiam, a emigração de técnicos espanhóis, brasileiros e portugueses para os mundos árabe e asiático está a ser fundamental para o desenvolvimento do futsal mundial.

O seleccionador português – Jorge Braz – disse já publicamente que o Miguel Rodrigo é uma referência para ele. Como vê esse elogio e que ambições pessoais têm enquanto treinador para os próximos anos?
Esse elogio é uma honra, uma satisfação e uma responsabilidade! O Jorge [Braz] é meu amigo desportivo, dou-lhe muito valor, creio que está a trabalhar muito bem e que tudo lhe sairá muito bem. Quanto a mim, trato de aperfeiçoar-me diariamente, de aprender com os bons treinadores aquilo que se deve fazer e com os maus aquilo que não devo fazer nunca; trato de ler muitos livros relacionados com o ser humano, as suas condutas e comportamentos e aplicar isso ao mundo do desporto. Trato de estar perto ao mundo que me rodeia, algo que aprendi com os meus mestres – Javier Lozano e Jose Venancio Lopez. Além disso, trato de ter humildade e proximidade para com os treinadores que se iniciam. Por isso trato sempre de dar uma mão a quem me pede para partilhar exercícios, vídeos, planificações, etc. Esse é o meu segredo, tenho muitos amigos e sinto-me com muita força e vitalidade ao ajudar os outros.
Quanto às minha ambições futuras, passam por continuar no Japão por mais 4 anos. Sinto-me muito confortável, como em casa, e há muito trabalho ainda por fazer.

Como explica que os treinadores espanhóis estejam hoje tão presentes em tantas equipas por todo o Mundo, quer clubes quer selecções? O que devem fazer os portugueses para também conseguirem esse destaque?
Não gostaria de ofender ninguém nem nenhum país, mas na minha opinião e na de muitos outros técnicos estrangeiros, os espanhóis são os treinadores mais bem preparados do Mundo a nível táctico-técnico e de estratégia. Investimos muito em formação, em cursos de treinadores únicos e formativos; tínhamos o estímulo de procurar ganhar ao Brasil e isso nos uniu como um grupo muito forte para criar o nosso próprio estilo de jogo e de treino. É um estilo baseado na tomada de decisões, que faz o jogador pensar, ler o jogo e actuar com máxima eficácia debaixo de pressão emocional. O segredo é esse: jogar e pensar.

É um modelo único, não existe. A nossa preparação é integral, conta com o físico, técnico, táctico, com aspectos perceptivos, decisionais, emocionais e atencionais. Assim, quando vamos para o estrangeiro, marcamos a diferença e toda a gente fica surpreendida. Além disso os jogadores evoluem muito rápido. Partilhamos muito o nosso trabalho, mesmo quando somos rivais na Liga Espanhola, trocamos os nossos treinos, scouting, vídeos de jogos, planificações, etc. Serve-nos de estímulo a vontade de nos superarmos e sermos melhores, de uma forma amigável e isto não acontece em mais nenhum lugar do Mundo. Houve um responsável por todo este movimento espanhol – Javier Lozano -, que o liderou e graças a ele somos o que somos.

FONTE: 5X4

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